No final de maio de 2012, retornei a Lisboa, desta vez em companhia da Taty. Lá tive a grata satisfação de receber vários amigos da poesia portuguesa, com os quais já vinha mantendo contato há algum tempo. Da esquerda para a direita: Bento Tiago Laneiro, Edyth Teles de Meneses, Dulce Rodrigues, Ilda Camacho,Tatiana filha da Sandra Fayad, Joaquim Sustelo, Sandra Fayad, Arlete Piedade e Maria Fonseca.
No final de abril de 2012, Mariana e eu fomos a Cuba. Ela foi participar de um Congresso Internacional de Saúde Mental Infantil. Eu aproveitei para conhecer a Casa de las Américas, a Casa de los Poetas e a União Nacional de Escritores Cubanos. Conhecemos também algumas pessoas maravilhosas, que nos receberam com muito carinho e com as quais estamos nos correspondendo: Irasema, Omar, Olga, Manuela, Yoel com esposa e filhos, Navarro, poetas e atores cubanos e equatorianos e a amiga angolana da Mari que a ajudou muito durante o Congresso.
Ficamos em Havana, no Hotel Riviera, 17º andar, vendo o Mar cristalino do Caribe batendo na calçada embaixo da nossa janela. Tudo foi muito bom. Comntarei mais sobre essa viagem oportunamente.
Na semana passada, fui convidada para assistir a uma reunião do Conselho de Gestão de Área de Preservação de Brasília – COMPRESB, que tem, dentre suas atribuições, a competência para avaliar se as propostas para erguer novas edificações e/ou alterar as já existentes, estão de acordo com as normas estabelecidas para o planejamento urbanístico do Distrito Federal.
Por esta razão, o Governo avisou aos moradores que, a partir daí, estava proibido fazer ou manter as grades de proteção das casas das Quadras 700 da Asa Norte e Sul, apesar de haver parecer da Polícia Local favorável à existência da proteção, e a despeito dos riscos de assaltos, furtos, estupros e da invasão de privacidade por parte de suspeitos que circulam na área.
Rosária, nossa incansável líder comunitária, calma, segura e com muita boa vontade para negociar, vem reunindo-se há quase um ano com, aproximadamente, uma dezena de Setores do Governo Local, no sentido de conseguir que a Nova Lei, de iniciativa do Executivo, seja aprovada com as mesmas garantias da anterior. No emaranhado burocrático em que nos meteram e onde nada ficou resolvido, foram nos empurrando de um lado para outro, até que caímos nas mãos, ou talvez nas patas, do Conselho de Gestão, que agora vai dizer ao Governador, se podemos ou não continuar protegendo nossos lares.
Estávamos ali, sentados nos bastidores, diante de uns vinte conselheiros engravatados, com aparência sisuda. Iniciou-se a discussão do primeiro item da pauta, que não era de nosso interesse, mas o de uma Universidade Particular do Estado do Rio de Janeiro, que adquiriu um grande terreno em uma área nobre da cidade, onde pretende construir um enorme complexo universitário, cujo projeto é de autoria do renomado arquiteto Oscar Niemeyer, responsável pela criação de Brasília, ainda trabalhando aos 98 anos de idade.
Trata-se de uma Universidade que oferece alguns cursos do segmento de Humanas que, em Brasília, já existem aos montes. Há tantas vagas para esses cursos aqui, que até fazem piadas com algumas universidades, afirmando que o aluno estará automaticamente matriculado, se passar distraidamente diante delas ou deixar cair um documento de identidade em sua porta de entrada.
O conselheiro relator levou cerca de trinta minutos para informar os detalhes da obra, deixando claro que o projeto estava em desacordo com as normas que o próprio Niemeyer havia estabelecido para a sua mais famosa criação. Após duas intervenções de ordem técnica por parte dos conselheiros, a proprietária da universidade foi convidada a falar. Durante uns quarenta minutos, a professora de setenta e um anos contou toda a sua história de magistério de cinqüenta e oito anos, bem como a origem e expansão do seu lucrativo negócio, culminando com a informação de que este último ficaria entre oitenta e cem milhões de reais.
Ao sabor desta informação, dois conselheiros imediatamente pediram vistas do processo e praticamente todos os outros se puseram a manifestar suas opiniões sobre a vida de Oscar Niemeyer, a importância da qualidade do ensino universitário, os problemas sociais do país, etc. Ainda bem que uma conselheira, a mais jovem, corajosa e prudente lembrou que estavam ali para avaliar projetos arquitetônicos, e não o ensino universitário, atitude que obteve protesto da representante da Secretaria de Educação, que fora também apoiar a dona do empreendimento.
Nós, humildes moradores das 700, mal acomodados nas cadeiras improvisadas ao fundo, sentíamo-nos desolados. Não ia dar tempo para discutir nosso caso. Como de fato não deu. Um morador, indignado com a situação enviou, através da secretária, um bilhete de protesto à Presidenta do Conselho que, apenas para dar uma satisfação ao grupo, mencionou rapidamente o motivo de estarmos ali. O relator que parece ser um voraz freqüentador de livrarias, falou durante cerca de dez minutos contra a nossa pretensão, com argumentos baseados em teorias sociológicas, sistemas perfeitos de administração pública, responsabilidades dos organismos de segurança em regimes democráticos ideais, citou vários autores e concluiu que a nossa reivindicação era descabida. Por sorte, metade dos conselheiros já havia ido acompanhar a Diretora da Universidade ou estava se preparando para as atividades após o almoço, em conversas paralelas.
Mas, tivemos um momento de glória. A presidenta mais uma vez deu uma demonstração de democracia. Comunicou aos conselheiros ainda presentes que ia abrir uma exceção, permitindo que a Presidenta do nosso grupo dissesse algumas palavras em defesa da comunidade ali representada.
Humildemente, nossa querida Rosário manifestou sua gratidão ao prêmio e pronunciou, quase exatamente, estas poucas e sábias palavras:
– Senhores, nós também somos contra as grades. Nós não as queremos. Queremos apenas viver em paz e em segurança em nossos lares, com as nossas famílias.
Concordo com o Clóvis. É impossível reverter a situação pelas razões expostas e também por questões de segurança. As casas da Quadra 700 do Plano Piloto, p.ex., são alvos fáceis de bandidos. Quantos casos já tivemos de assaltos e rendição de moradores, a despeito do gradeamento? Hoje moradores que vivem nessas casas desde 1960/70 são obrigados a se protegerem com grades, cercas elétricas, câmeras de segurança e ainda assim vivem assustados e completamente vulnéráveis, porque o Poder Público nunca lhes garantiu um mínimo de segurança, sem contar que não cuida do arvoredo, do gramado, das calçadas, da iluminação. As quadras 700 são literalmente abandonadas desde sempre. A esse respeito e também para reforçar a opinião do Clóvis a respeito das posições casuísticas de interesses eleitoreiros e econômicos, reporto-me a um fato ocorrido a alguns anos durante uma reunião no Conselho do Patrimônio Histórico, em brasília. Segue o link da matéria amplamente debatida por arquitetos renomados:
Os inimigos do tombamento são poderosos Publicado 15/03/2012 17:16 |
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Não é difícil entender porque tanto se desrespeita o tombamento do Plano Piloto como Patrimônio Cultural da Humanidade. Basta entender como funciona o poder político no Distrito Federal. Desde 1987, são 25 anos de transgressões cometidas por empresários ávidos de lucros, com o apoio de deputados distritais e juízes, a conivência de sucessivos governos distritais e a omissão de autoridades federais.
O problema é tão velho quanto Brasília, e desrespeitos ao projeto urbanístico de Lucio Costa existem desde a inauguração da cidade. E já eram muitos na década de 1980, o que chamou a atenção do então governador José Aparecido de Oliveira que, com muito trabalho, conseguiu o reconhecimento do Plano Piloto, pela Unesco, como Patrimônio da Humanidade. Não fosse isso, as Asas Sul e Norte já teriam blocos de 20 andares, o Parque da Cidade já teria sido loteado entre as construtoras e incorporadoras.
Mas as coisas pioraram a partir de 1990, quando o governador passou a ser eleito e foi constituída a Câmara Legislativa. Quem defende a democracia defende eleições, mas é preciso reconhecer que o problema das violações ao patrimônio começa nelas. Infelizmente. A busca pelos votos a qualquer custo e o financiamento de campanhas eleitorais estão na base de praticamente todo o desrespeito ao tombamento do Plano Piloto.
Não há governador do DF que tenha sido eleito sem a ajuda financeira de empresários da construção civil, legalmente ou pelo caixa dois. Todo mundo sabe disso e alguns empresários arrotam esse apoio sempre que têm oportunidade. O mesmo acontece com deputados distritais. E muitos deputados que não recebem dinheiro desses empresários antes da eleição, recebem durante o mandato, especialmente quando se votam questões urbanísticas. E isso não aconteceu só no governo de Arruda, não.
Por isso os empresários da construção civil de Brasília fazem o que querem: mudam normas de gabarito, constroem blocos com sétimo andar disfarçado, adensam áreas já saturadas, inventam quadras e superquadras onde elas não deveriam existir, alteram a destinação de lotes, invadem áreas públicas e assim por diante. Conseguem aprovar leis na Câmara que são sancionadas pelos governadores, cometem irregularidades e ilegalidades sem serem incomodados por ninguém. Grandes empresários subornam altos funcionários, pequenos empresários subornam fiscais. Têm sido assim e continua sendo assim.
A livre movimentação dos empresários da construção explica, por exemplo, os espigões de Águas Claras e do Guará, a transformação das já conturbadas margens da Epia em áreas residenciais, o adensamento irresponsável na W4 e na W5, o projeto de torres na 901 Norte, os apartamentos disfarçados de hoteis na orla do Lago, o aumento do número de superquadras previstas para o Sudoeste e para o Noroeste, a quadra 500 no Eixo Monumental, o centro administrativo em Taguatinga e até o estádio de dispensáveis 70 mil lugares.
O dinheiro dos empresários traz os votos, mas não basta isso. Os candidatos precisam dos votos dos que invadiram terras públicas ou compraram terras de grileiros para construir condomínios, para aumentar a área de suas lojas, para construir quadras esportivas e piscinas em suas casas, para aumentar seus lotes e protegê-los com grades e muros. Precisam dos votos dos que impunemente deformam as quadras 700 e a Vila Planalto.
Mas a teia não para por aí. Quando o governo ou o Ministério Público agem, ou procuram agir, sempre há alguns juízes para conceder liminares protegendo as ilegalidades e irregularidades. O tombamento do Plano Piloto tem inimigos nos três poderes e no poder principal: o econômico. Helio Doyle http://www.meiaum.com.br/blog.php?blog=3&id=439: )
Comentários:
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Uma cidade, uma restinga, uma BR, rio e mar. Lá fora a ilha. A história mal contada, mal explorada, a preservação do patrimônio cobrado, fiscalizado, exigido. Mas burlado. Os nativos contados nos dedos. Serviços e produtos voltados basicamente para a exploração DO TURISTA . Paisagem linda, mas comprometida. Falta higiene na maioria dos locais onde se dorme e se come, faltam organização, tabela de preços, preocupação com o futuro da história passada. Ninguém sabe ao certo se foi aqui ou ali que se deu tal ou qual fato.Supõe-se!
Jamais farão uma ponte ligando a aldeia à cidade. Os 300 metros de travessia de barco geram estrondosa renda para políticos e empresários, que exploram hotéis, restaurantes, barracas. O que não é de uma certa empresa de turismo, é conveniado. Transporte público fraco, taxi sem taxímentros. Preço da corrida de acordo com a cara do freguês. Vi um turista estrangeiro protestar: "Paguei R$15,00 para vir até aqui há 30 minutos. Você quer me cobrar R$36,00 para voltar. Isto não está certo!". Ao que o motorista, apoiado por seus companheiros respondeu: " O preço aumentou!".
"Agora"? perguntou o turista. "Sim, agora, neste instante".
No hotel onde nos hospedamos, bem localizado, ajardinado, elegante, de frente para a praia principal, apareceu uma barata caminhando no quarto, moscas pousavam nos bolos e biscoitos nos balcões do café da manhã todos os dias. Os turistas torciam o nariz e comentavam: "Que sujeira"!
Lá - dizem que em todos os hotéis - é proibido comprar comida e bebida fora do hotel, sob pena de haver multas e acréscimos nas diárias. O hóspede tem que pagar todas as diárias previstas antecipadamente. Doze horas antes de encerrar o período, o sistema eletrônico cancela o código da chave de acesso ao apartamento e o sinal da Tv, que não é a cabo. É necessário ir à recepção reclamar. O sinal da internet é ruim. É necessário ir até a recepção com o equipamento para conseguir conectar.
São prejudicadas as atividades culturais como cinema, teatro, biblioteca pública. Praticamente não há. A única universidade existente não possui infraestrutura de acesso até mesmo à pé. Os alunos tem que atravessar trechos de matagal, areia, barro vermelho e alagamentos para chegar e sair do prédio, encravado em uma rua distante do centro.
Conheci uma voluntária cuidando da Biblioteca particular João Ubaldo Ribeiro e dos projetos da Universidade, que me emocionou. Ela se desdobra para realizar algum dos seus ideais de difusão cultural, sem apoio institucional e sem recursos de qualquer origem.
Este foi o Porto Seguro que vi.
Bsb, 25-03-2012