EM BUSCA DE LUZ
Depois de muita agitação nos últimos dias, tirei este dia para descansar e meditar durante as caminhadas da manhã e do final da tarde. Tenho o hábito de cumprimentar todos com os quais cruzo nas calçadas. Hoje estranhei-me. Não senti vontade de falar “bom dia” ou “boa tarde”. O que eu mais queria era esvaziar a mente e, para isso, necessitava economizar até as palavras. A sensação estranha foi dar de cara com a estrofe da letra da música Roda Viva, de Chico Buarque:
“Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...”
Fui ao encontro do último verso para tentar compreender a loucura que parece estarmos vivendo nos dias atuais. O excesso de informações, de fontes muitas vezes sem identificação, os comentários dos âncoras e repórteres das mídias televisivas, radiofônicas, digitais constituem uma enorme teia de aranha enlouquecedora.
Tornou-se impossível saber o que é verdadeiro no meio virtual. Mas é também impossível identificar se a voz, que ouvimos no vídeo ou no rádio, é mesmo do repórter ou do entrevistado. Da mesma forma, não podemos afirmar que a moça, que faz publicidade de determinado produto, é real. Será que é um robô?
...”foi o mundo então que cresceu”... Cresceu! Em que direção? Pode ter crescido para o alto e ficado tão distante das nossas mãos, que não o alcançaremos. Pode ter crescido para o lado direito ou esquerdo e nos ser permitido tocá-lo com o olhar enviesado apenas parcialmente. Pode ter crescido para baixo e ser necessário nos curvarmos para enxergá-lo nas profundezas do Universo.
Meditei sobre isso nas minhas caminhadas. Olho para meus contemporâneos, descendentes, vizinhos, transeuntes e só consigo enxergar pressa, irritação, interrogação.
Todos estão - como diria meu papai – fora do prumo. Ocorre até com os religiosos, psicólogos, instrutores de yoga e de outras artes voltadas para o bem-estar pessoal ou coletivo.
Continuarei caminhando e meditando em busca de luz, mas vou voltar a cumprimentar as pessoas. Espero que pelo menos sorriam.