Criado em setembro de 2007,  e premiado e autorizado pelo poder público a partir de 2020, o nosso Micro Ecossistema Urbano, na Asa Norte, em Brasília, recebe os mais variados e curiosos visitantes diariamente. Já recebeu crianças. desde os dois anos de idade,  puxando os pais pela mão para ver as plantinhas e os passarinhos. Recebe a comunidade e até pesquisadores e jornalistas estrangeiros, maravilhados com a variedadse e  criatividade nele existente.

Recentemente apareceu um músico, que se define como pianista, é divorciado e novo morador de um condomínio de flats próximo ao nosso Espaço. Para comprovar sua atuação artística, mostra vídeos no smartphone e conta sobre viagens, inclusive ao exterior. Deve ter aproxmadamante 70 anos. Se é refinado ao falar, é um péssimo ouvinte. Veio uma vez, apresentou-se como tendo nascido e morado até recentemente na Serra dos Órgãos, teceu comentários positivos sobre o meu trabalho de horticultora, pediu indicação de restaurante próximo e atendeu o telefonema de um de seus filhos,  que mora em Brasília. Entendi que combinavam encontro para um almoço de confraternização.

Alguns dias depois, voltou em companhia de uma menina. Vinham do supermercado. Eu quis saber sobre ela. A própria Informou que mora em um abrigo de menores, tem 15 anos de idade e, no momento, não está na escola. O pianista sugeriu que eu a contratasse para ajudar nas tarefas da horta. Observei ambos e rejeitei essa hipótese de pronto. Continuaram subindo a rua.

Ontem ele voltou pela terceira vez. Estava ansioso e precisava muito falar comigo sobre a menina. Queria que eu repensasse sobre trazê-la para ajudar-me na horta. Contou que ela e dois irmãos foram resgatados pelo poder público, porque a mãe os maltratava. Naquele dia, conheceu a garota no supermercado. Como ela "estava atrapalhada para pagar a conta", ele fez a caridade de pagá-la e acompanhá-la rua acima. Sentia que precisava ajudá-la. Expliquei que sua proposta de dar trabalho à menor abrigada era  totalmente inviável. Desconversou.

Novamente voltou a contar sobre seu passado artístico, mostrar vídeos e pedir indicações de produtores de shows na cidade. Como eu estava ocupada  na cozinha, deixei claro que não poderia lhe dar mais atenção. Informou que iria em busca de um restaurante para almoçar. 

Prefiro não emitir juízo sobre esse visitante, mas algo me incomodou bastante.