Histórias da Horta -
CASAMENTOS DESFEITOS
Antônia trabalha quinzena sim, quinzena não no apartamento que fica em frente à horta. Ela cuida de duas crianças de nove e seis anos. Essas crianças ficam sob sua responsabilidade quando cabe ao pai (seu patrão) o direito a ficar com elas por acordo na separação do casal. Portanto a cada quinze dias as crianças mudam de residência. Antônia mora em uma casa com quintal na periferia do Distrito Federal, onde tem uma horta. No ano passado me trouxe um lindo vaso de cebolinha e levou algumas mudas. Agora se propôs a trazer as cascas das frutas e verduras da casa em que trabalha para compor a compostagem. Esta é a primeira vez que ela vem à horta, neste ano. O casal divorciado estava de férias e cuidaram das crianças nos dois últimos meses. Notei que Antonia estava diferente, mais magra, com cabelos curtos, suspirando e com muita vontade de se fazer ouvir. Começou contando sobre as crianças, inclusive sobre sua filha que também tem seis anos e a acompanha para o trabalho. Depois explicou que está em fase de separação do marido.
E foi contando:
- Ele saiu de casa. Está lá com a outra, mas não foi buscar o resto das suas coisas. Telefonou, quer ir lá na casa, mas eu disse que estou no trabalho.
Suspirou.
E foi contando seu drama. Estava tão descompensada...parecia querer que eu dissesse algo que a fizesse sair do emaranhado de pensamentos que a atormentavam.
Então eu me lembrei daquela frase anônima que li em “O Pensador” :
“A vida é imprevisível e é isso que a torna bonita. Não podemos saber o que o futuro reserva, portanto, tudo é possível.”
Antônia ainda se lamentou um pouquinho, suspirou, agradeceu e voltou ao trabalho.