DETRÁS DAS PEDRAS
Por Sandra Fayad
Quando reformamos a horta, tivemos que comprar materiais para compor os canteiros suspensos e a nova cobertura. No entanto, sobraram algumas pedras e tábuas de madeira, que ficaram de um lado para o outro, sem que soubéssemos se ainda teriam alguma utilidade. A certa altura (os portugueses usam muito esta expressão) resolvi pedir ao Valdomiro que colocasse essas pedras e tábuas encostadas na parede do canteiro no final da rampa de acesso à casa, local que não incomodaria ninguém, até que tivéssemos certeza de que aquilo deveria ser descartado. Assim foi feito. Passados alguns dias, ao regar as plantas notei algum movimento ali. Comentei com o Valdomiro:
- Caramba! Acho que essa ideia não foi boa. Parece que tem ratos entre as pedras.
Ele, envolvido com outros afazeres, não foi verificar. E ficou tudo por isso mesmo.
Alguns dias depois, senti um alívio ao ver que dali saía uma lagartixa bem gordinha. É que, ao regar as plantas, deixei cair um pouco de água nas pedras e ela reagiu imediatamente. Percebi, pelo olhar e gestos dela, que o fato de ter caído água onde estava não lhe agradou nem um pouco. Pedi desculpas e acreditei que havíamos reatado a amizade, que já é bem antiga.
Mais dois dias e eu necessitei retirar as duas tábuas mais leves de lá para marcar, na calçada, a entrada para veículos. Ergui devagar uma com uma das mãos e depois a outra e as coloquei na calçada. Ai... ai...ai... Que dor no coração!
Vocês não vão acreditar. Nelas havia dezenas de lagartixinhas recém- nascidas. Fiquei desesperada tentando recapturá-las para levá-las de volta à mãe, ao ninho, mas elas saíram cegas pelo asfalto escuro em direção contrária. Certamente morreram todas. Por que é que fui mexer naquelas pedras? Que tristeza eu causei à mãe lagartixa! E o pior é que agora ficou muito difícil reconquistá-la.
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