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O COMPLICADO ANIMAL RACIONAL
Por Sandra Fayad
No início da Primavera, é comum comparecerem Produtores de Programas com Repórteres e Fotógrafos para nos entrevistar sobre a história e o desenvolvimento da Horta Comunitária. Nas duas últimas semanas, recebemos um grupo de formandas do curso de jornalismo do IESB - Instituto de Educação Superior de Brasília. As meninas muito simpáticas colheram informações, entrevistaram pessoas da comunidade e filmaram os espaços de cultivo, mural e vizinhança. Finalmente tomaram o já tradicional suco de capim-santo com gelo, mel e limão no fechamento da reportagem.
- É uma delícia, afirmam sempre os visitantes.
(Só não penso que é por educação porque repetem a dose).
Na troca de presentes, levaram o meu livro “Animais que Plantam Gente” e prometeram enviar-me o DVD com a reportagem, que será objeto de avaliação dos seus professores.
- Estarei aguardando ansiosa, cobrei.
Mais recentemente, fui procurada pela equipe da TV SUPREN (canal 8 da Net), que também nos entrevistou e gravou imagens da Horta para mostrar ao seu público as nossas ações interativas com o meio ambiente e propor que sigam o exemplo.
Durante as filmagens comentei com o fotógrafo:
- Veja e ouça o movimento e a cantoria dos pássaros no arvoredo...
De fato, faziam uma verdadeira festa como tem sido todos os dias desta fase da estação florida. Eles passam o dia conversando entre si alegremente.
- Estão trocando informações e curtindo as boas sensações trazidas pelas primeiras chuvas e pelo resultado positivo no visual. Sabem que agora não vão lhes faltar alimento, água, sombra, frescor. Sentem que estão protegidos da adversidade e que podem se reproduzir ver os filhotes crescerem e ter garantida, ao menos temporariamente, a preservação de sua espécie - concordamos um com o outro.
Enquanto isso...
Não se pode dizer o mesmo dos seres ditos racionais do mundo capitalista.
Com a crise financeira internacional ameaçando esvaziar os bolsos do contribuinte, do mais abastado ao mais humilde, os humanos estão ligados vinte e quatro horas por dia nos noticiários da imprensa especializada para tentar compreender o significado de certos termos do “Economês” e decifrar o emaranhado que se estabeleceu nas finanças globais.
Analistas políticos e financeiros comentam que a origem da crise está nos atentados de 11 de setembro de 2001, que destruíram milhares de vidas nos Estados Unidos e geraram centenas de reações violentas de conseqüências desastrosas, comandadas pelo governante Bush especialmente no Oriente Médio.
Lembro-me de uma frase atribuída a Osama Bin Laden e repetida diversas vezes pela mídia posteriormente aos atentados: “A América nunca mais será a mesma”.
De fato, passados sete anos de violência contra violência, com a conseqüente perda de milhões de vidas inocentes, mutilações, empobrecimento e insegurança gerados na maioria dos países, instala-se no Planeta o caos financeiro de conseqüências imprevisíveis dentro da nova ordem da chamada economia globalizada.
- A globalização, longe de ser um processo que favoreça a distribuição de riquezas, é um meio de exploração das fontes de riqueza, penso eu.
Agora, o efeito dominó da derrocada econômica global, vai estourar novamente nas costas dos mais frágeis, dentre eles o povo brasileiro. É bom não nos iludirmos com os discursos de que estamos protegidos, blindados por 200 milhões de dólares de reservas internacionais... e coisa e tal. Continuamos sendo uma economia baseada na agro-pecuária, mais emergente que nunca, pois só encontramos espaços no mercado internacional, depois de exaustivas negociações para colocação de produtos de consumo básico, as chamadas commodities agrícolas, como carne e soja.
A crise financeira vem se aliar à comprovação de falta de alimentos no mundo por conta da exploração inconseqüente e inadequada dos recursos naturais da Mãe Terra.
A escassez de moedas saudáveis para especulação e investimentos de ponta, da mesma forma, poderá respingar na indisponibilidade de recursos para cumprir até os contratos em vigor das nossas exportações, gerando inadimplência nos espaços conquistados e quebradeira de empresas nacionais. Em última instância, é a recessão chegando...
Mesmo com a certeza de que o bicho-homem é quem está atirando no próprio pé, ainda encontramos gente que justifica a degradação ambiental com teses de que o Planeta envelheceu e por isso está morrendo naturalmente.
Embora eu não detenha o conhecimento necessário para avaliar esta informação, ela não deve ser determinante do estado de destruição da flora e da fauna, porquanto todos os dias são veiculados notícias de ações devastadoras do homem em todos os continentes.
- Penso no quanto os maus especuladores conseguiram distorcer resultados financeiros nas operações bancárias e nas negociações de ações nas bolsas de valores, mentindo para seus semelhantes, que lhes confiaram suas economias.
- Penso no quanto somos capazes de enganar a nós mesmos com a crença de que respeitamos nossos semelhantes, com a impressão de que cumprimos e aceitamos as normas legais, religiosas, familiares impostas ao longo da evolução (ou involução) da humanidade.
- Comparo tudo isso com a força dos pequenos e aparentemente frágeis animais que frequentam os galhos das árvores na Horta: em um pequeno espaço, eles conseguem viver, se alimentar, constituir suas famílias, orientar alegremente seus filhos. Conseguem, ainda, comemorar a temporada favorável da Primavera e usufruir dos benefícios da Terra sem destruí-la. Ao contrário, a tornam mais rica e completa, harmonicamente.
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 13/01/2014
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