ENVELHECER
Sandra Fayad
Envelhecer não me incomoda!
Tenho cabelos brancos, flacidez e enruguei,
Perdi a cinturinha, o bumbum e achatei.
Não me incomoda
Se me rotulas com etiqueta de velha,
Ou preferes que eu seja uma “Amélia”.
Se finges não ver minha sensualidade,
Ou fazes careta se me dão prioridade.
Envelhecer não me incomoda!
Esqueço teu nome ou quem tu és,
Lembro-me de toca-discos e faço escalda-pés;
Não acompanho teu ritmo na noitada?
É que tua música me deixa irritada.
Não me incomoda
Se insinuas que invejo tua juventude
Ou que pareço gozar de pouca saúde.
Mas envelhecer incomoda-me porque
Conheço tuas artimanhas: trilhei a tua estrada!
Sobre mim, o que é que sabes? Quase nada!
Percebo o que está no teu pensamento,
Mas não deténs o mesmo conhecimento.
Vejo a pedra em que vais tropeçar lá na frente,
Mas rejeitas meus conselhos, veementemente.
Ah, envelhecer incomoda-me!
Já não há domingos da casa dos meus pais,
E família em volta da mesa, nossos risos ou ais.
Foram-se amigos que não mediam quilometragem:
Iam e vinham no frio ou calor, chuva ou estiagem.
Por mais que eu seja alto astral, sei que felicidade
É um sentimento parcial, assim como é o tua.
Mas acredite! Com sorte, bom senso e cuidados
Poderá ser longeva como é a minha.
Bsb, 14-07-2013