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Sandra Fayad Bsb
Minhocário de Palavras
Textos
 
Nota: Este textos foi publicado no Correio Brasiliense de 20-09-2010, a pedido da editora do Caderno Cidades (pág.26)

IPÊS AMARELOS

Domingo, dia 12 de setembro de 2010, foi uma data muito especial. Não que tenha sido um dia de festa, vitória, sucesso, enlace, mudança ou mesmo desenlace.
Nada disso!
Também não foi um domingo em que abri mão das caminhadas matinais no Eixão Norte, a partir das nove horas da manhã, desde a  Quadra “treze” até a “cinco”, ida e volta.
Não. Não foi diferente desde a “treze” até a “onze”, mas daí em diante, tornou-se quase indescritível pela beleza e emoção que de mim se apossou. Posso tentar descrever como fazem os bons poetas e cronistas brasilienses, aos quais rendo homenagens. Não sei se terei o mesmo mérito.
É que os ipês amarelos, que apareciam aqui e ali de um e de outro lado do Eixão, se agrupavam na altura das Quadras “nove/dez”, para voltarem a se espalhar e a se misturar com o rosa, branco, verde e os demais tons do restante da paisagem nas quadras seguintes.
As pessoas que haviam ido caminhar, correr, alongar-se, como fazem todos os domingos, não resistiam a tanta beleza e paravam sobre o asfalto, ou se deslocavam de um para outro lado do gramado em busca do melhor ângulo para fotografarem ou filmarem aquele espetáculo matinal.
Já não se via os atletas, ciclistas e patinadores dedicados aos seus costumeiros exercícios físicos. Ninguém conseguia tirar os olhos daqueles monumentos da natureza, exceto os que voltavam às suas casas exclusivamente para apanharem uma câmera, retornando com impressionante rapidez para registrarem tudo o que fosse possível, como se aquilo estivesse revestido de efemeridade imediata.
Estavam todos hipnotizados por tanta beleza. O contraste dos troncos marrons com as folhas verdes e o amarelo vivo da floração sob os raios de sol era capaz de provocar em cada um de nós um nó na garganta, uma emoção ímpar, um êxtase impossível de definir. Só há uma forma para descrever o sentimento: é senti-lo!
Até as vozes desapareceram. O silêncio era o único companheiro possível a cada um dos humanos que somente queria se ocupar com o ver, o fotografar, o filmar, o admirar-se, o emocionar-se... Ninguém se atentava para nada mais à sua volta. Creio que se um cidadão irreverente resolvesse de despir por completo ali no meio da pista ou do gramado passaria despercebido, desde que, naturalmente, se posicionasse fora do campo de visão dos admiradores do espetáculo. Mas se resolvesse se colocar na frente ou ao lado daqueles ipês maravilhosos, correria o risco de ser excretado, xingado, linchado. 
Embora quase todos os frequentadores do Eixão Norte sejam pessoas que nasceram ou residem em Brasília há muito tempo e que elegeram aquele espaço como seu preferido programa dominical, parecia, naquele dia, estarem em visita a outro País de relevo e arquitetura extraordinários ao olhar candango.
Para a maioria, a caminhada foi agradavelmente interrompida ali. Depois de permanecer por cerca de meia hora na parte onde se concentrava a maior quantidade daquelas belas árvores, resolvi seguir em frente. Na altura da “seis” havia outra concentração de pessoas, música e algumas tendas montadas. Aproximei-me para concluir que se tratava de mais uma manhã de atividades de lazer e esportes promovida pelo GDF e coordenada pela Diretora de Planejamento,  a simpática Ainaran, com quem conversei sobre as dificuldades de atendimento das solicitações da nossa Prefeitura pelo Governo do Distrito Federal.  Depois visitei os estandes de artesanato e produtos naturais, onde descobri as mudas de sálvia, alfazema e tomilho que procurava. Conversei também com os deficientes visuais da ABDV, que produziam, no local, vassouras recicladas a partir de garrafas pet. 
Eu, que deveria chegar à casa por volta de 11 horas, atrasei-me uma hora e meia sem culpa e com enorme desejo de retornar ao Eixão do Lazer, agora praticamente vazio de pessoas.
Só não o fiz porque o sol a pino e a baixa umidade do ar convenceram-me que era melhor adiar por um dia a visita àquele espetáculo da natureza, que só o cerrado brasileiro é capaz de nos proporcionar. 

Brasília, 13 de setembro de 2010
 
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 21/09/2012
Alterado em 02/08/2019
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