CAJUEIRO DOS PAPAGAIOS (ARÁ ACAYÚ)
CAJUEIRO DOS PAPAGAIOS
(ARÁ ACAYÚ, EM TUPI)
Sandra Fayad
Aracaju, capital de Sergipe, é uma cidade simpática de gente muito agradável. Tão receptivos e prestativos são os sergipanos que repeti recentemente umas férias que haviam deixado boas recordações em 2007, quando estive lá pela segunda vez. A primeira foi há muitos anos, quando a orla de Atalaia, a praia turística, era deserta e sem urbanização. Não é o que se vê agora. Toda a beira-mar exibe um paisagismo criativo, colorido, único (pelo menos para mim). Da avenida bem sinalizada por onde circulam os veículos até o mar, diferentemente de qualquer outra praia que conheço, há uma distância que varia de cem a mil metros. O espaço é ocupado por pistas de atletismo, playground, centros de artesanato e de cultura, arvoredo, estátuas de personalidades nacionais e locais, chafarizes, restaurantes, quadras de esportes, coqueiros, lixeiras, mesas e bancos de concreto para descanso dos frequentadores. Para o acesso dos banhistas à praia, construíram passarelas de madeira acima do areal, arrematadas por grupos de cadeiras e mesas de plástico acompanhadas de guarda-sóis e serviços de bar. A mais famosa delas é a Passarela do Caranguejo. Dali até a água é necessário caminhar ainda uns cinqüenta metros, dando a impressão que tudo é preparado para evitar a contaminação da orla, embora só se encontre banheiros em locais próximos ao asfalto. Em alto-mar, ao longe, mas ainda ao alcance dos olhares curiosos se pode visualizar vinte e sete plataformas da Petrobrás, em torno das quais a maior parte da economia da cidade gira. Nos hotéis da orla muitas operações relacionadas à exploração de petróleo, conferências, cursos e encontros empresariais acontecem. Os melhores hotéis e restaurantes estão justamente ao longo da única avenida paralela à orla, onde também há algumas casas de diversão tradicionais, cada qual com um tipo de ritmo próprio para dançar, cerveja e frutos do mar. Uma delas é o famoso Cariri, a casa de forró mais famosa, mas com péssimo serviço de atendimento. Apesar disso está sempre lotada pelos forrozeiros de plantão. Outra casa interessante ao lado dessa oferece uma enorme pista de dança, em um espaço igualmente grande com muitas mesas para os que apreciam a música sertaneja. Dessa eu gostei do atendimento, mas não cheguei a aproveitar a oportunidade de participar do evento de quinta-feira. Já mais próximo do final da orla, pertinho do Oceanário, há a famosa Bier House, outra casa com música ao vivo e dança de salão. O ritmo vai desde os bolerões até a música baiana, passando pela Bossa Nova, MPB, Jovem Guarda, Samba de Raiz, ou seja, lá é que era o meu reduto preferido e foi onde Rosa Maria e eu “aterrisamos”, com a vantagem adicional que podíamos ir e voltar a pé ao hotel em que estávamos hospedadas. Há muito tempo que eu não me divertia tanto, embora o atendimento fosse tão fraco quanto o lá do Cariri. Nesses locais há uma visível ansiedade dos proprietários e garçons na maximização do resultado financeiro em detrimento à satisfação do cliente. Explora-se o frequentador, especialmente se for turista, não o negócio em si. Em algumas situações chegam a ser grosseiros a ponto de apresentar a conta ao cliente que não está gastando tanto quanto gostariam para ocupar a mesa com outro mais promissor. Atitude lamentável!
Já nos hotéis e restaurantes finos o atendimento é bom. Recepcionistas, gerentes e garçons recebem bem os clientes, mas erram muito no preparo dos alimentos, salgam a mais ou de menos, engorduram, servem pratos mornos ou frios quando deveriam estar quentes, além de não se preocuparem em oferecer as opções “light” como saladas cruas, legumes cozidos, arroz integral, enfim os pratos preferidos por naturalistas e vegetarianos. Para que o visitante tenha acesso a esse tipo de alimentação deve tomar um táxi ou ônibus e ir ao centro da cidade, onde Rosa Maria descobriu apenas dois restaurantes naturais, que não eram lá essas coisas....
Já nas barracas do litoral sul, a partir da AABB e do Clube da Petrobrás, o atendimento é melhor e a paisagem natural da praia significativamente mais bela.
Segundo um empresário local, 80% do turismo de Sergipe é oriundo da Bahia, especialmente de Salvador, que fica a 350 km de distância, percorrida com segurança através uma estrada interestadual denominada Linha Verde, que dizem ser excelente.
De fato, quase todas as pessoas que conheci lá eram soterapolitanos (= cidadãos nascidos em Salvador), também muito agradáveis.
Alguns baianos arrogantes costumam dizer que Sergipe é o quintal da Bahia, deixando irritados os sergipanos que, via de regra, são donos de esperta simplicidade e calorosa inteligência. Deixam tão à vontade o visitante, que de lá já saí com a volta planejada para breve.