NA FAZENDA BATATEIRAS
(Contada por Papai)
Na fazenda Batateiras, lá pelos lados do rio São Marcos, território goiano perto de Catalão, eu tocava minhas lavouras.
Naquela época não havia os “artifícios” que há hoje.
Quase tudo era na base da permuta (troca de mão-de-obra por mantimentos).
- Quanto valia um dia de serviço?
Dependendo do peão, o dia era pago da seguinte forma: uma rapadura, um palmo de fumo, uma garrafa de pinga, cinco litros de café em grão ou até cinco balas de revólver. Outras vezes trocava-se por ferramentas (pá, enxada, serrote, pólvora, espoleta) e até por remédio.
Eu tinha uma pequena “venda” nas minhas terras e ali se fazia de tudo. Minha mulher Geny tomava conta da venda e dava aulas para o povo da região no barracão, coberto com folha de babaçu.
Quando tinha que plantar ou colher uma lavoura, eu montava meu cavalo e saía na redondeza para convocar o povo, que ia trabalhar na minha roça: capinar; plantar arroz, milho, feijão, algodão.
A turma era grande. Tinha o Filomeno; Compadre Joaquim Matias com seus filhos João, Gerciano e José; o Felipe e o Adalto; o Gibrail, o Nego da Brasiliana, o Vidal.
Era um povo pobre que não tinha quase nada e que raramente ia à cidade. Por esta razão fazíamos a “trama”, que era o sistema de trocas sobre o qual acabei de falar. Somente um ou outro é que queria dinheiro.
- Também para quê dinheiro na roça, se lá a gente produzia quase tudo o que necessitava?
Na época própria, eu juntava a turma e íamos para a capina. Era uma beleza ver aquela turma toda capinando...
O Filomeno ia numa beirada da roça e eu na outra: a turma dele subindo e a minha descendo... Quando eles chegavam lá em cima, o Filomeno gritava:
- Cheguei!
E eu dizia:
- Agora desce com a sua turma, que eu vou subindo...
Eta tempo bom!
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 26/01/2009