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Sandra Fayad Bsb
Minhocário de Palavras
Textos
PRIMOR DE ESTAÇÃO

Primavera no Planalto Central
É “trec-trec” nas folhas secas,
Baladas de flores em festival,
Cantoria de pássaros e cigarras
Reunidos em um só sarau,
Ao som afinado de fanfarras!

Todo ano, no início da Primavera, fico maravilhada com o visual do cerrado brasileiro. A transformação da paisagem se dá de forma tão radical que pode ser comparada com a mudança de água para vinho. O fenômeno ocorre no espaço de tempo de apenas uma semana, tudo por causa de duas ou três chuvas.
A água benfazeja purifica o ar; transforma calçadas e asfalto amarronzados em branco-brilhosos; primeiro, balança fortemente os galhos das árvores mais altas para sacudir a poeira acumulada durante meses; depois o faz para as livrarem das folhas secas que lhes davam o aspecto de sujeira. Lava telhados das casas e prédios, marquises e paredes dos pontos de ônibus, postes de iluminação e até dos fios de eletricidade, onde pousam os pássaros para melhor localizar seus alimentos preferidos. Alguns se escondem da água, outros aproveitam para tomar aquele banho gostoso, como é o caso dos pombos, que ficam quietinhos sobre os fios como se fossem enfeites enquanto as nuvens desabam.
Se chove à noite, normalmente o dia nos desperta com o sol invadindo as frestas das janelas. Vem enxugar os pingos d’água, mas não ousa secar a atmosfera. É a oportunidade para calçar um tênis e dar umas voltinhas pela redondeza, onde se consegue visualizar dezenas de novidades.
- Quer ver?
Pequenas folhas secas que se desgrudam dos troncos das árvores ainda estão caindo como plumas silenciosas sobre o tapete formado pelas maiores. Ali podemos passear despreocupadamente, fazendo aquele “trec-trec” gostoso a cada passada.  É o melhor barulho do silêncio que já ouvi. 
- Experimente esquecer que você tem dívidas, desavenças, desconforto. Esqueça todos os “ds”, tire o chapéu ou o boné e curta esse momento especial.  Passeie!
Faça trec-trec pra lá... trec-trec pra cá!
Ao longo do Eixão Norte, em Brasília, há diversas frutíferas no canteiro central, como amoreiras, goiabeira, pitangueiras, mangueiras, jambeiros, jamelaozeiros, coqueirinhos, além dos belíssimos ipês floridos (rosa, branco, amarelo), tão belos que o visual é de tirar o fôlego e desejar viver eternamente para admirá-los. 
É irresistível recusar o convite das amoreiras para brincarmos de pique-esconde. Lá fui eu dizendo para uma delas:
- Aprendi a lidar com você. Nem pense em esconder suas roxinhas que eu vou achá-las.
De fato, consegui degustar pelo menos umas 50 ali pelas Quadras 6, 7 e 8. Já estava me dando por satisfeita, quando passou uma moça e disse:
- Olha, se você for lá para os lados da 11-12 vai encontrar um verdadeiro bosque de amoras. Tá assim... ó! - arrematou ela , juntando as pontas dos dedos.
- Obrigada, respondi
E lá fui eu comer mais amoras!
No caminho encontrei uma mangueira carregada de jamelão e mangas ao mesmo tempo. Parei para observar. Não é que os galhos do jamelaozeiro haviam se enrolado no tronco da mangueira?
Certamente que, onde quer que você esteja dentro do bioma do cerrado, verá também frutos e flores assim, acima ou na altura dos seus olhos, acenando para que os colha, deguste ou leve para sua casa.
- Novamente sugiro que experimente esquecer que você tem dívidas, desavenças, desconforto... todos os “ds”, tire o chapéu ou o boné e recolha o que a natureza está lhe ofertando.  Participe!
Domingo é sempre um dia especial para mim. Salvo raras exceções, cumpro um ritual que tem gosto de picolé de coco, cheiro de alfazema e importância de colo de mãe: vou caminhar no Eixão. Não apenas eu.
Tempos atrás o Governo do Distrito Federal quis reduzir de 11 h para apenas 5 h o tempo de lazer naquele local. Causou um rebuliço na população: imediatamente aderimos em massa a um abaixo-assinado rejeitando a mudança e conseguimos que tudo permanecesse como está.  O Eixão é o nosso calçadão. Mais que isso, é a nossa praça, o nosso bosque, o nosso ponto de encontro aos domingos. É comum passarmos dez, quinze, vinte anos sem ver uma pessoa e reencontrá-la caminhando por ali, onde também se faz novas amizades: um apresenta o outro que vira um novo amigo. Lá se marca encontro, se combina visitas, passeios, viagens, negócios; se leva crianças, convalescentes, hóspedes e até cães para passear. Há os ciclistas, os shows de capoeira, alongamento, música, teatro. Há as tradicionais corridas dos carteiros, advogados, colégios; os vendedores de coco, rapadura, mel, quadros; os quiosques de hospitais medindo pressão, a divulgação das técnicas orientais de saúde, policiamento. Há os atletas de fim de semana que fazem “longões” (expressão inventada pelo EB).  
- Se você já conhece o Eixão do Lazer, sabe que não estou exagerando. Se ainda não o conhece, experimente esquecer... todos os “ds” , coloque sobre a cabeça o chapéu ou o boné e venha passar um primor de domingo aqui. Todo ano, no início da Primavera, fico maravilhada com o visual do cerrado brasileiro. A transformação da paisagem se dá de forma tão radical que pode ser comparada com a mudança de água para vinho. O fenômeno ocorre no espaço de tempo de apenas uma semana, tudo por causa de duas ou três chuvas.
A água benfazeja purifica o ar; transforma calçadas e asfalto amarronzados em branco-brilhosos; primeiro, balança fortemente os galhos das árvores mais altas para sacudir a poeira acumulada durante meses; depois o faz para as livrarem das folhas secas que lhes davam o aspecto de sujeira. Lava telhados das casas e prédios, marquises e paredes dos pontos de ônibus, postes de iluminação e até dos fios de eletricidade, onde pousam os pássaros para melhor localizar seus alimentos preferidos. Alguns se escondem da água, outros aproveitam para tomar aquele banho gostoso, como é o caso dos pombos, que ficam quietinhos sobre os fios como se fossem enfeites enquanto as nuvens desabam.
Se chove à noite, normalmente o dia nos desperta com o sol invadindo as frestas das janelas. Vem enxugar os pingos d’água, mas não ousa secar a atmosfera. É a oportunidade para calçar um tênis e dar umas voltinhas pela redondeza, onde se consegue visualizar dezenas de novidades.
- Quer ver?
Pequenas folhas secas que se desgrudam dos troncos das árvores ainda estão caindo como plumas silenciosas sobre o tapete formado pelas maiores. Ali podemos passear despreocupadamente, fazendo aquele “trec-trec” gostoso a cada passada.  É o melhor barulho do silêncio que já ouvi. 
- Experimente esquecer que você tem dívidas, desavenças, desconforto. Esqueça todos os “ds”, tire o chapéu ou o boné e curta esse momento especial.  Passeie!
Faça trec-trec pra lá... trec-trec pra cá!
Ao longo do Eixão Norte, em Brasília, há diversas frutíferas no canteiro central, como amoreiras, goiabeira, pitangueiras, mangueiras, jambeiros, jamelaozeiros, coqueirinhos, além dos belíssimos ipês floridos (rosa, branco, amarelo), tão belos que o visual é de tirar o fôlego e desejar viver eternamente para admirá-los. 
É irresistível recusar o convite das amoreiras para brincarmos de pique-esconde. Lá fui eu dizendo para uma delas:
- Aprendi a lidar com você. Nem pense em esconder suas roxinhas que eu vou achá-las.
De fato, consegui degustar pelo menos umas 50 ali pelas Quadras 6, 7 e 8. Já estava me dando por satisfeita, quando passou uma moça e disse:
- Olha, se você for lá para os lados da 11-12 vai encontrar um verdadeiro bosque de amoras. Tá assim... ó! - arrematou ela , juntando as pontas dos dedos.
- Obrigada, respondi
E lá fui eu comer mais amoras!
No caminho encontrei uma mangueira carregada de jamelão e mangas ao mesmo tempo. Parei para observar. Não é que os galhos do jamelaozeiro haviam se enrolado no tronco da mangueira?
Certamente que, onde quer que você esteja dentro do bioma do cerrado, verá também frutos e flores assim, acima ou na altura dos seus olhos, acenando para que os colha, deguste ou leve para sua casa.
- Novamente sugiro que experimente esquecer que você tem dívidas, desavenças, desconforto... todos os “ds”, tire o chapéu ou o boné e recolha o que a natureza está lhe ofertando.  Participe!
Domingo é sempre um dia especial para mim. Salvo raras exceções, cumpro um ritual que tem gosto de picolé de coco, cheiro de alfazema e importância de colo de mãe: vou caminhar no Eixão. Não apenas eu.
Tempos atrás o Governo do Distrito Federal quis reduzir de 11 h para apenas 5 h o tempo de lazer naquele local. Causou um rebuliço na população: imediatamente aderimos em massa a um abaixo-assinado rejeitando a mudança e conseguimos que tudo permanecesse como está.  O Eixão é o nosso calçadão. Mais que isso, é a nossa praça, o nosso bosque, o nosso ponto de encontro aos domingos. É comum passarmos dez, quinze, vinte anos sem ver uma pessoa e reencontrá-la caminhando por ali, onde também se faz novas amizades: um apresenta o outro que vira um novo amigo. Lá se marca encontro, se combina visitas, passeios, viagens, negócios; se leva crianças, convalescentes, hóspedes e até cães para passear. Há os ciclistas, os shows de capoeira, alongamento, música, teatro. Há as tradicionais corridas dos carteiros, advogados, colégios; os vendedores de coco, rapadura, mel, quadros; os quiosques de hospitais medindo pressão, a divulgação das técnicas orientais de saúde, policiamento. Há os atletas de fim de semana que fazem “longões” (expressão inventada pelo EB).  
- Se você já conhece o Eixão do Lazer, sabe que não estou exagerando. Se ainda não o conhece, experimente esquecer... todos os “ds” , coloque sobre a cabeça o chapéu ou o boné e venha passar um primor de domingo aqui. 
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 01/10/2008
Alterado em 30/10/2011
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