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Sandra Fayad Bsb
Minhocário de Palavras
Textos
EMA, A PROMÍSCUA 

E
M A, a Promíscua!

Não faz muito tempo, passando pela estrada federal que liga Luziânia a Catalão, era comum vê-las circulando de um para outro lado ou ciscando no asfalto, alheias à aproximação dos veículos que, quase sempre, vinham em alta velocidade.
Com o aumento do trânsito, devido à instalação de novas indústrias na região, bem como de outros fatores econômicos, que provocaram o aumento de trânsito, parece que desapareceram. Pelo menos não as tenho visto nas últimas passagens pelo local.

Aqui, nos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul (quase extinta), a subespécie é denominada Rhea americana intermedia, um pouco maior em tamanho e em população do que as outras duas da espécie classificada como Rhea americana.

A Ema (macho e fêmea) também conhecida por nandu e nhandú, é uma ave terrícola, gregária e excelente corredora, da família Rheidae, descendente dos dinossauros e uma das mais antigas do ponto de vista da filogenética. Nativa das planícies e dos cerrados brasileiros possui dorso acinzentado, mais claro na parte inferior e três dedos nos pés. Os machos são maiores que as fêmeas, com penas mais escuras e pretas na base do pescoço e peito; possuem pênis, diferentemente da maioria das aves. Os filhotes são de cor marrom com raias negras e os mais jovens são de tom cinza claro.
Vive em bandos de cerca de trinta elementos que se deslocam com freqüência à procura de alimentos no chão, é ovípara (bota ovos), mas não voa. No entanto corre muito, chegando a atingir a velocidade de 60 km por hora (só perde para o avestruz, que alcança 80 km por hora). Usa as asas para se equilibrar e mudar de direção durante a corrida.
Rústica, medindo até dois metros de altura e pesando cerca de trinta e seis quilos, na fase adulta, sobrevive à seca, mas não suporta grandes períodos de chuvas, pois suas penas são permeáveis e, para os filhotes, o excesso de umidade pode ser fatal. Aos três meses de idade os machos chegam a pesar quinze quilos.
Sua dieta é composta de gramíneas, leguminosas e pequenos animais como cobras, ratos, lagartos, moscas, baratas, carrapatos. Come também brotos tenros e sementes em germinação, o que desagrada sobremaneira aos agricultores. Sua voracidade, às vezes, acaba eliminando-a e reduzindo sua prole, conforme se pode observar na região próxima ao Parque Nacional das Emas (GO). Lá é comum vê-las (junto com os veados) saírem da área protegida para se alimentarem nas plantações contaminadas com agrotóxicos. São animais diurnos na busca de alimentos. Ingerem ainda pedrinhas que auxiliam na trituração da comida. E, devido a este hábito, a Ema não resiste à tentação de engolir também outros objetos miúdos, inclusive de plástico ou de metal. O dito popular "tem estômago de avestruz" também pode ser estendido a ela.
Algumas curiosidades tornam essa ave especial. Uma delas é a voz. Segundo o compositor João do Vale: “Você bem sabe/ que a ema quando canta/ vem trazendo no seu canto/ um bocado de azar”. Por quê? Ora, porque a ema não canta, ela grasna, ronca, suspira e geme “no tronco do jurema...”. Outro fato curioso é que alguns a consideram promíscua, aliado à ausência do instinto maternal comum aos outros animais, que veremos a seguir.
Na fase reprodutiva, que vai de julho a outubro, podendo se estender até março, os machos se separam dos grandes bandos e sofrem transformações morfológicas e comportamentais. Nesta fase, ocorre a formação dos haréns que podem ser compostos por até nove fêmeas, e também a disputa entre os machos pela preferência das fêmeas, caracterizada por grasnidos, saltos, exibições das asas e do pescoço, ataques e expulsões. O acasalamento se dá a partir da dança e do canto do macho em torno da fêmea ao nascer do dia, quando ela se deita e o macho sobe no seu dorso, semelhante ao que acontece com o galo e a galinha.
Então o macho prepara o ninho, onde as fêmeas do seu harém irão botar.
Quando o ninho está cheio de ovos (cerca de vinte e cinco), o macho as afasta e se responsabiliza por chocá-los. O período de incubação varia de 39 a 42 dias. Os ovos eclodem todos no mesmo dia. Os que não eclodem são colocados para fora do ninho. Alguns ovos ficam gorados e exalam forte cheiro quando é rompida a sua casca. O odor atrai grande quantidade de insetos que formam a primeira fonte de nutrientes para os filhotes. Estes já nascem com a agilidade necessária para ficar distante da mãe, pouco carinhosa, que pode até matá-los. Com duas semanas de idade, as eminhas alcançam meio metro de altura, sem contar o pescoço e permanecem aos cuidados do pai até aos seis meses. Só atingem a idade adulta aos dois anos.
Enquanto o macho está lá quietinho, chocando os ovos, a fêmea, livre da responsabilidade, desloca-se para se agrupar e passar por mais uma fase de formação de harém com outros machos, botando em novos ninhos. Geralmente as fêmeas se acasalam com três machos diferentes e colocam em cada ninho de quatro a cinco ovos. Este sistema de acasalamento chama-se poligínico-poliândrico.
No meu ponto de vista, a Ema Fêmea está mais para feminista do que para promíscua. Afinal de contas, o macho também não se acasala com mais de uma fêmea?
Em todo caso, fica aqui o convite para a avaliação dos leitores a respeito.
Além do homem, são seus predadores, o lagarto teiú que come seus ovos, os filhotes do lobo-guará, os felinos de pequeno porte e os gaviões.
A Ema está incluída na lista dos animais ameaçados de extinção elaborada pelo IBAMA.
Originalmente, podia ser encontrada em quase todo o território nacional, excetuando-se as ilhas ou arquipélagos. Só não ocorria em matas fechadas dos biomas da Mata Atlântica e Amazônia. Hoje - a destruição do hábitat natural para uso da agropecuária e ocupação humana -, com a conseqüente contaminação de áreas com agrotóxicos que, ingeridos, comprometem a saúde do animal e de sua prole; a caça predatória, por sua carne ou retirada de penas para a fabricação de adornos, espanadores e adereços para fantasias de carnaval, bem como os atropelamentos nas estradas, a espécie tornou-se bem mais rara. Por esta razão, esse animal silvestre teve sua caça proibida por lei e fiscalizada pelo IBAMA. No entanto, a criação em cativeiro é permitida e bastante viável, pois sendo uma ave nativa e, em seu ambiente natural, dócil, com filhotes resistentes, tamanho que facilita o manejo e confecção de estruturas como cercas, telas e abrigos, essa criação pode ser encarada como uma forma de pecuária eficiente, ambientalmente correta e sustentável. Conforme relato de Luiz Antonio Dias Leal, da Área de Negócios para Transferência de Tecnologia do IBAMA, o manejo de Emas em cativeiro faz sucesso, pois são boas produtoras de carne, ovos e pele de alto valor econômico. O comércio da carne só é permitido para animais oriundos de criadouros comerciais, registrados junto ao Órgão e abatidos em frigoríficos que também sejam legalizados.
A carne da Ema é mais fibrosa do que a de outros animais, como, por exemplo, a da galinha; os ovos são riquíssimos em proteína e bastante grandes (pesam de 400 a 700 gramas, cerca de quinze vezes o da galinha); a pele, depois de curtida, dá excelente matéria-prima para bolsas, sapatos, cintos e casacos, e é tão resistente quanto os couros tradicionais, mas, por ter granulação fina, é mais suave e macia; as penas servem para espanadores e outros artefatos, inclusive adornos de roupas femininas e fantasias. Cada Ema tem 110 a 120 penas por asa e as maiores chegam a 60 cm; e, finalmente a pepsina, que é uma substância encontrada em grande quantidade na Ema, podendo ser aproveitada pela indústria farmacêutica na fabricação de digestivos.
No Brasil, ainda não existem criatórios de Emas de grande porte, para produção de carne, couro e penas.
Nos Estados Unidos, o rebanho comercial passa dos cem mil exemplares, que fazem parte de negócios de milhões de dólares crescente, enquanto a demanda pelos produtos do animal também aumenta na Europa e Japão.
Foi pensando nisso, que Roberto Wolaj, um fazendeiro uruguaio, resolveu investir no desenvolvimento da criação de emas desde 1991. Seu criatório é o maior do mundo e, até bem pouco tempo, toda a sua produção é destinada ao mercado brasileiro. Eis aí um novo filão de mercado pra os produtores nacionais, desde que não tome o mesmo rumo da criação de avestruzes...
A propósito deste e de outros artigos sobre animais, permitam-me trazer-lhes, para meditação, algo sobre as pesquisas de Charles Georges Leroy, que viveu entre 1723 e 1789, na França. Leroy foi guarda dos Parques de Versailles e Marly como seu pai. Caçador, por profissão, dedicou-se a tudo que se relacionava com a preservação das florestas. Em seu maior legado – Letters sur lês animaux (Cartas sobre os animais), afirma que “...os animais sentem como nós... Alguém que pudesse ouvir, sem ficar comovido, os gritos angustiantes de um animal, não seria bastante sensível aos de um homem. É bem verdade que nós temos absoluta certeza das nossas próprias sensações; mas as inflexões da voz na dor, as demonstrações visíveis de alegria, que nos garantem sensibilidade de nossos semelhantes, depõem fortemente a favor dos animais”.
Diz o prefaciador do livro, Dr. Robinet, a respeito das conclusões de Leroy: “... em seus estudos, Leroy concluiu que, nos animais como no homem, sensações, necessidades e afeições determinam a conduta e que inteligência a esclarece e dirige. Ela não vê entre a natureza intelectual e moral senão diferenças de grau, sobre os quais a ausência ou a existência do desenvolvimento social influi ainda consideravelmente”.
Fontes:
Foto: 
www.portalsaofrancisco.com.br
http://www.brazilnature.com/fauna/ema.html
http://www.esam.br/zoobotanico/animais/ema.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ema
http://www.ambientebrasil.com.br/
www.saudeanimal.com.br/ema.htm
http://www.agrov.com/animais/peq_ani/ema.htm
Catálogo Rural
Livro: Cartas sobre os animais, de Charles Georges Leroy, ed. 1990

 
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 29/06/2008
Alterado em 14/12/2015
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