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Sandra Fayad Bsb
Minhocário de Palavras
Meu Diário
21/01/2014 00h42
Resenha: Grande Sertão, Veredas - Por Antonio Augusto dos Reis Veloso

Texto:  Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa (Editora Nova Fronteira, EdiçãoComemorativa  dos 50 anos,  em tiragem de 10.000 cópias, 2006,553 páginas).

 

-   texto deslumbrante,  uma obra-prima da literatura brasileira:  no começo,  parece impenetrável, escrito em dialeto jaguncês, só para os iniciados. Aos poucos,  a narrativa vai delicadamente se revelando, abrindo os seus segredos, a sua enorme engenhosidade,  a sua  beleza. O autor, João Guimarães Rosa, nasceu em Cordisburgo,Minas Gerais, em 1908, e morreu  no Rio de Janeiro, a 19 de novembro de 1967.  Médico  formado em 1930, seguiu a carreira diplomática e escreveu o primeiro romance, Sagarana,  em 1946, aos 38 anos.  No texto do Grande Sertão: Veredas tudo é sutil e colocado em forma bruta, a ser lapidado e cultivado. O ambiente,  nos sertões das Gerais, é habitualmente inóspito,  duro, de lutas e guerras:  é matar e morrer.  Tentar escapar e viver: “viver é negócio muito perigoso”.  O amor está lá por inteiro,  delicadamente, maneiroso, no meio da brutalidade,  no meio das traições, das guerras, da morte.   Riobaldo, Tatarana :  o narrador único,  fica circulando por todos os espaços, atuando como intérprete de tudo.  Com muita sutileza:  “eu quase que nada não sei.  Mas desconfio de muita coisa.”   A linda história de amor entre Riobaldo e Diadorim  perpassa toda a narrativa, de forma delicada e perene.   Diadorim  -  homem,mulher, a companhia de todos os instantes de Riobaldo. São muitos os personagens do livro: Joca Ramiro,Zé Bebelo, Quelemém,  Medeiro  Vaz, Hemógenes,  Ricardão e muitos outros.   No centro de tudo a presença de Deus,

do demo, do jagunço.   Uma epopéia  esplêndida, com  os costumes, a vida,  os conflitos ,  as lutas, aventuras e desventuras do sertão.  Uma viagem inesquecível, sem destino, uma  realidade diferente,impactante,

“uma torre de Babel”  -  surpreendente, musical,  cheia de poesia, fascinante.  Riobaldo e Diadorim,  amigos  fraternos,  paixão misteriosa e intensa, vivendo  a paz e a guerra. Amor sutil, ambíguo.  São antológicas algumas passagens do livro:  a cena grotesca dos jagunços,  às gargalhadas,  ensangüentados na boca, palitando os dentes com a faca de ponta, afiada. Marcante, também,  a descrição do “julgamento justo” do Zé Bebelo, sob o comando do Joca Ramiro.  A leitura do texto não é farefa fácil:  exige dedicação.  È como alerta Afonso Arinos de Melo:  “Cuidado com este livro, pois Grande Sertão: Veredas é como certos casarões velhos, certas igrejas cheias de sombras.  No princípio a gente entra  e não vê nada.  Só contornos difusos, movimentos indecisos, planos atormentados.  Mas aos poucos,  não é a luz nova que chega:  é a visão que se habitua. E, com ela,  a compreensão admirativa.  O imprudente ou sai  logo,  e perde o que não viu, ou resmunga contra a escuridão, pragueja, dá rabanadas e pontapés.  Então arrisca-se a chocar inadvertidamente  contra coisas que, depois, identificará como muito belas.”

 

Obs.: Publicação autorizada pelo autor do texto.

Publicado por Sandra Fayad Bsb
em 21/01/2014 às 00h42
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