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Sandra Fayad Bsb
Minhocário de Palavras
Meu Diário
06/05/2010 00h27
A Outra Face Portuguesa
 A Outra Face Portuguesa

 
“Em contraste com o amor fraterno e o amor erótico, que são amor entre iguais, a relação de mãe e filho é, por sua própria natureza, de desigualdade; nela, um necessita de toda a ajuda; o outro a dá. Por esse caráter altruísta, abnegado, é que o amor de mãe tem sido considerado a mais alta espécie de amor, o mais sagrado de todos os laços emocionais”. (Erich Fromm, em A Arte de Amar)
 
Às vésperas da data em que rendemos homenagens às Mães, cabe lembrar que, de fato, segundo o Dicionário Houaiss, Mãe é a que dá a luz; por derivação, é a pessoa que protege, ou aquilo que dá origem. Já Madrasta é a mulher do pai; no sentido figurado é mulher má, incapaz de sentimentos afetuosos e amigáveis. Na minha família, temos uma situação que não se enquadra nesses casos. Depois de muito matutar, achamos um meio para definir a nova esposa do pai da minha neta: Boadrasta.  Não é que a expressão pegou?
Bem, voltemos ao tema da semana passada, em que lhes contei sobre o lado bom da viagem que Shirley e eu fizemos à denominada Pátria-Mãe da grande maioria dos brasileiros, Portugal.
Depois da calorosa acolhida por parte dos poetas, cantores, músicos e público na cidade de Almerim, fizemos alguns passeios e contatos agradáveis com outros nativos e, no meu caso, com o primo Dibinho, sua esposa Bia e seu filho Toy. Ao lado desse maravilhoso trio, passei vinte e quatro horas de bate-papo muito rico e divertido.
A viagem prometia ainda muitas alegrias descritas nos artigos que lemos e nas informações que nos deram sobre o Reino Marroquino, onde planejávamos cumprir a segunda etapa do passeio.   
Mas fomos surpreendidas primeiramente por um overbooking mal explicado, no Aeroporto de Lisboa. Em situação semelhante à de outro grupo de quatro pessoas de uma mesma família, fomos deixadas para trás no embarque que iria diretamente para Marrocos, onde um motorista nos esperava para iniciar uma extensa programação de visitas às três cidades mais importantes do País: Casablanca, Marraquech e Rabat, a Capital.
Havíamos feito tudo certinho. Passagens compradas ainda no Brasil, inclusive com lugares marcados nos vôos; seguro de viagem; contratação prévia do pacote turístico com empresa conceituada, em Lisboa.
Nossos insistentes argumentos e pedidos de explicação eram rebatidos por funcionárias arrogantes e ríspidas da TAP, incapazes de solucionar o problema de forma minimamente aceitável.
Depois de enfrentarmos uma longa fila em direção ao guichê de atendimento geral, efetuaram o pagamento correspondente a apenas um overbooking (como “cala-boca”) e nos colocaram em um  vôo, via Barcelona, cidade  que fica do outro lado da Espanha. Algo mais ou menos como ir de Catalão a Araguari, via Brasília, com o agravante de trocar de transporte (conexão). Suportável, embora tivéssemos que ligar para a Empresa de Turismo com o pedido de alteração do transfer Aeroporto-Hotel, em Casablanca (de 14:20h para 21:30 h). Fazer o quê?
Embarcamos. Ao colocar a bagagem de mão no “compartimento acima de suas cabeças”, Shirley não percebeu que sua carteira contendo passaporte, dinheiro e outros documentos, caiu sobre o assento da poltrona à sua frente. Um nigeriano, ao ocupar a poltrona, se deparou com a carteira, levantou-se e gesticulou para chamar a atenção sobre o objeto em sua mão, perguntando se era de algum passageiro próximo. No entanto, por se tratar de uma bolsinha preta unissex como tantas outras, eu não a identifiquei como sendo da minha companheira de viagem, que repousava ao meu lado e que não contava com a possibilidade de tê-la perdido. Então o passageiro esticou o braço em direção à comissária e lhe entregou a bolsa. Foi o bastante para disparar uma série de consequências desastrosas, que jamais poderíamos supor. Ao dar falta dos documentos, Shirley foi informada que foram entregues ao comissariado em terra, ainda em Lisboa, antes da partida da aeronave. No desembarque em Barcelona, e durante os dois dias seguintes em que ficamos ali retidas, não tivemos qualquer informação a respeito do paradeiro da carteira. Para completar, ficamos também sem as nossas malas, que foram desembarcadas e desapareceram por cerca de trinta horas. O dia seguinte ao desembarque era Domingo de Páscoa e Feriado Municipal, com o comércio e tudo o mais “cerrado” na cidade. Em Barcelona, as pessoas falam e escrevem catalão e espanhol, simultaneamente, o que nos causava constantes embaraços na comunicação. O comissariado local da TAP é composto apenas de cinco atendentes que não se expressam em português e que se revezam no atendimento de forma precária, em relação à sede da empresa em Lisboa.
Apesar do estresse, do desconforto e das incertezas, procuramos manter a calma. Tomamos as providências possíveis, tais como avisar novamente a empresa de turismo sobre a impossibilidade de prosseguir viagem; solicitar orientação à Diplomacia Brasileira; registrar os fatos na Delegacia Policial do Aeroporto, com o objetivo de obter salvo conduto para que a Shirley pudesse sair de Barcelona; descolar-nos até a cidadezinha mais próxima para comprar objetos de primeiras necessidades; enviar mensagens à família e à TAP através do pequeno computador que levávamos na bagagem de mão; guardar comprovantes de despesas como taxi, alimentação, hotel, gastos emergenciais. De resto, era rezar e esperar que tudo acabasse relativamente bem.
As malas apareceram no final da segunda noite em Barcelona. Foram entregues no segundo hotel em que havíamos nos hospedado após o desembarque. De volta ao Aeroporto e de posse do salvo conduto, Shirley e eu fomos encaminhadas ao guichê do check-in para Lisboa. Lá, ainda tivemos que enfrentar as grosserias de uma atendente histérica. Concluímos que comportamentos assim são bastante comuns nos Aeroportos daquela parte da Europa. A causa? Talvez Freud explique. Desembarcamos em Lisboa e retiramos a bagagem ao lado de uma porta onde se lia: “Achados e Perdidos”. Embora desanimada, Shirley resolveu perguntar:
- Por acaso foi entregue aqui algum objeto ... assim, assado...
- Sim – respondeu o atendente.
Foi lá dentro e buscou a carteira, de onde haviam sido subtraídos somente cem dos duzentos e cinqüenta euros. 
Com o prejuízo agora minimizado, retornamos ao hotel Alif, no simpático bairro de Campo Pequeno, de onde havíamos partido nos braços da matriarca Lisboa, em direção aos primeiros passos das expedições que trouxeram nossos antepassados para este apaixonante lado do Atlântico Sul, onde certamente aperfeiçoaram a Arte de Amar.  
Publicado por Sandra Fayad Bsb
em 06/05/2010 às 00h27
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